sábado, 8 de novembro de 2008

Saúde na Amazônia: Em Novo Progresso é proibido reclamar



Pelo andar da carruagem da saúde amazônica tem sido difícil trabalhar na região sem debater carências e saídas para solucioná-las. À falta de recursos o profissional está proibido de se queixar. E fica sujeito até mesmo a demissão, como se percebe na situação da Prefeitura de Novo Progresso, às margens da BR-163, a 1,6 mil quilômetros de Belém do Pará.

Depois de trabalhar por dez anos em Joinville (SC) a reumatologista Margareth Liez Saad mudou-se para Amazônia. Passou quatro anos em alguns municípios mato-grossenses e há dez meses se dedica à saúde pública em Novo Progresso.

Ao site Escolas Médicas ela lamentou a impossibilidade de se criticar a situação da saúde local. Disse mais: “O salário é o mesmo que eu estaria ganhando numa cidade maior, com algum tipo de lazer, já que aqui não há nada. Eu e um colega aproveitamos a rara presença de promotor de justiça na cidade para notificarmos que, apesar de trabalharmos com cerca de 40 mil habitantes, doenças graves como hantavirose aparecem quase todas as semanas, mas não temos sequer um desfibrilador ou um respirador para transportar esses casos”.

Mexeu no vespeiro. O prefeito Tony Fábio Rodrigues não gostou nem um pouco de ouvir essa constatação da realidade. Bastou os médicos entrarem no Fórum e foram “premiados” numa lista de demissões. Imediatamente, trancou o salário de julho, agosto e até 14 de setembro de 2008 Margareth estava demitida, apesar de ser período eleitoral e de ter sido concursada em primeiro lugar. "Dá para trabalhar na Amazônia sem leis?”, ela pergunta. Senti o desabafo, porque venho mostrando a falta de médicos na região e a necessidade de os profissionais formados no sul, sudeste e centro-oeste optarem pela medicina em estados tão carentes quanto o Acre, Amapá, Rondônia, Amazonas, Mato Grosso, Roraima e Tocantins.

A despeito dos esforços do prefeito em melhorar a saúde pública, há outros problemas a resolver, daí a necessidade do diálogo produtivo. Operações do Ibama revelam o patrimônio ambiental depredado por centenas de madeireiras “fantasmas” em Novo Progresso, Trairão, Uruará, Itaituba e Altamira. Elas totalizam a perda de 3,6 mil árvores/mês de mogno, jatobá, ipê, angelim e massaranduba.

O assoreamento de rios e igarapés, as agressões à fauna e o incremento da biopirataria na região são igualmente carentes de ações enérgicas, a partir do mando das próprias autoridades locais. São elas que continuarão vivendo ali e se sujeitarão às conseqüências dos possíveis – alguns já anunciados – desastres ambientais.

Há três anos, a Polícia Federal e o Exército localizaram no município um cemitério clandestino com diversas ossadas. jogadas numa vala comum, depois de queimados os cadáveres. Eram de sem-terra, pistoleiros? A região é dominada por madeireiros.

Nada contra esses cidadãos trabalhadores que pagam impostos, têm famílias e dão emprego. Apenas enfatizo que entre eles existem os mais gananciosos e até perigosos, capazes de tudo fazer para sustentar a exploração predatória e se livrar do incômodo que lhes cerca nesses confins.

Tão preocupado deve estar o prefeito, que cede à vazão de tricas e futricas de quintal e volta suas baterias contra aqueles cuja maior missão é levar saúde a quem dela precisa nesse rico município paraense.

Francamente, há mais com que se preocupar. Melhor reciclar-se.

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